segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Todas as Cartas de Amor são Ridículas



Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Comos as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
São as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
                                                         Álvaro de Campos


Queria escrever, mas hoje só me lembrava deste poema. Encontro-lhe tantas verdades e identifico tantas coisas nele... Concordo que as cartas de amor são ridículas eu diria até pirosas, no entanto acho que ridículas lhe fica muito melhor. É verdade, eu também já escrevi cartas de amor, nunca ou quase nunca chegaram ao seu destinatário, precisamente por serem ridículas. Fazia-o com uma facilidade quase assustadora. Mas quem nunca o fez? Alguém que talvez nunca sentiu, e imagino que seja muito triste não sentir o dito amor. No entanto quando as escrevia, mesmo que ficassem comigo, também as recebia. E era bom...  Não vai há muito que as destruí a todas. E a recordação que tenho delas é que eram verdadeiramente ridículas. Somos tão ridículos que trocamos os órgãos para falar de amor... E sobre este tipo, hoje mais nada digo. "Pensamentos Coloridos" para todos!

1 comentário:

  1. Este poema é fabuloso!
    E parece que fica melhor quando interpretado por uma cantora brasileira cujo nome não me recordo.
    Tento só lê-lo em brasileiro e percebes a diferença :)

    ResponderEliminar